terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Quis custodiet ipsos custodes?

Ouvi dizer, que em um reino distante chorava um bufão. Chorava de desgosto, por fazer sorrir a todos, mas ninguém queria lhe fazer sorrir. Era um homem comum, por debaixo da mascara e maquiagem. Talvez até comum demais. Antigamente era mais vistoso e alegre, sempre carregava um sorriso no rosto. Mas o tempo cruel, e as apresentações consecutivas já tinham tirado muito do brilho de seus olhos. Mas nada disso podia ser visto à luz das chamas bruxuleantes de lareiras e candelabros do castelo, quando era ninguém menos que ele mesmo, ou o que deveria ser.

“Por caridade”, pensava ele. “Será que algum dia, alguém, em algum lugar, fará sorrir o bufão?”. Mas todos queriam sorrir, e era trabalho do palhaço, fazer sorrir.

Que triste destino este do Pagliachi, sempre sozinho, sempre acompanhado, sempre fazendo rir e jamais rindo.

Onde estará sua alegria? Onde estará sua felicidade?

Foi então o Palhaço até o Conselheiro real. Este era um homem de muita idade e muito conhecimento. Era tão sábio que muitos reis tinham se consultado com ele, e guerras haviam sido travadas e evitadas por seus conselhos. O bufão então teria ido até ele, como se algo o puxasse pelas orelhas, agora quentes, caminhando sem titubear frente aos corredores labirínticos do imenso castelo do reino distante. Gostava ele de se sentir alguém, então estava apenas com seu próprio rosto, uma fantasia que gostava de usar.

Ao entrar no quarto de estudos do sábio, este se curvou e disse:

- Poderia conceder um minuto para um homem perturbado, nobre sábio? – Curvava-se com honraria e polidez, conforme havia visto muitas vezes antes nos salões do rei.

O erudito achando tudo aquilo muito incomodo, mas se apiedando do pobre homem resolveu acatar.

- O que este humilde servo poderia fazer a tão pobre criatura? – Falava em um tom cortes com o desconhecido que realmente parecia tão pobre como um cachorro faminto e magro.

- Estaria eu, um humilde servo deste castelo, a procura de algo que pudesse aplacar a minha dor. Senhor, estou triste. – Declarou o pobre homem cansado.

De imediato o homem busca a mais sensata das soluções.

- Ora! Veja o bufão. Soube que se apresentará esta noite para todos do castelo.

Eis que com lagrimas nos olhos, o bufão olha para o homem contendo a voz que saia tímida do peito.

- Mas senhor... Eu sou o bufão!

Uma bela história. Todos batem palma, e quase todos riem, mas alguns...

Ah, alguns choram, pois são eles próprios os bufões de suas próprias vidas.

2 comentários:

Ana C. disse...

Ninguém consegue realmente entender essas coisas de sofrimento alheio.
Só sabe a profundidade da poça quem cai nela.

Thom disse...

Hm, qualquer identificação é mera coincidência...