terça-feira, 5 de maio de 2009

Divagações

Sabe aqueles dias em que você realmente quer mudar as coisas?
Sim, esse é um dia daqueles. Não importa se vai dar certo, se vai melhorar ou piorar. A unica coisa que te move é o desejo de mudança, e isso não pode tardar de jeito nenhum...

Caronte

Caronte
Lord Dunsany
Caronte inclinou-se para frente e remou. Todas as coisas eram uma com seu cansaço.
Para ele, não era uma coisa de anos ou de séculos, senão de ilimitados fluxos de tempo, e um antigo peso e uma dor em seus braços que se tinham convertido em parte de um esquema criado pelos deuses e em um pedaço de Eternidade.
Se os deuses lhe tivessem mandado ao menos um vento contrário, isso teria dividido todo o tempo em sua memória em dois fragmentos iguais.
Tão cinzas resultavam sempre as coisas onde ele estava que se alguma luminosidade se demorava entre os mortos, no rosto de alguma rainha, como Cleópatra, seus olhos não poderiam percebê-la.
Era estranho que atualmente os mortos estivessem chegando em tais quantidades. Chegavam de mil em mil, quando costumavam chegar de cinqüenta. Não era a obrigação nem o desejo de Caronte considerar o porquê dessas coisas em sua alma cinza. Inclinava-se para frente e remava.
Então, ninguém veio por um tempo. Não era comum que os deuses não mandassem ninguém da Terra por tal período de tempo. Mas os deuses sabem.
Então, um homem chegou só. E uma pequena sombra sentou-se, estremecendo na praia solitária, e o bote zarpou. Apenas um passageiro. Os deuses sabem. E um Caronte grande e cansado remou junto ao pequeno, silencioso e assustado espírito.
O som do rio era como um poderoso suspiro lançado pela Aflição, no começo, entre suas irmãs, e que não pode morrer como os ecos da dor humana que se apagam nas colinas terrestres, senão que era tão antigo como o tempo e a dor nos braços de Caronte.
Então, no cinza e tranqüilo rio, o bote se materializou na costa de Dis e a pequena sombra, ainda estremecendo, pôs o pé na terra, e Caronte voltou o bote para se dirigir, cansado, ao mundo. Então a pequena sombra falou; havia sido um homem.
"Sou o último", disse.
Nunca ninguém havia feito sorrir Caronte, nunca nada antes o havia feito chorar.

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Estava procurando um autor novo e este me apareceu de um modo bem interessante. O final me fez arrepiar e realmente não era esperado haha, pelo menos não por mim ^^
A tradução tá meio estranha, mas resolvi não mecher. Não quis estragar nada.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Fragmentos

Esse texto é parte de uma história que escrevia faz um tempo. Resolvi voltar a escrever alguma coisa e figuei fuçando pra ver se achava algo interessante e me deparei com esta parte. Sempre gostei dela, acho q tem um tom meio q existencialista. Bem, achei interessante postar. Espero que gostem. =)
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O tempo o tinha mudado, mas Soren não sabia o quanto. De corsário a fugitivo. De herói a bandido. Uma interessante mudança para uma personalidade como ele. As coisas nunca estiveram bem colocadas e viver em um mundo de luxo e fantasias, onde a cada segundo cada nobre e membro da corte deveria usar sua mascara, onde cada ação deveria ser medida e calculada, para que seu vinho no próximo festival não estivesse envenenado lhe deixava doente. Odiava interpretar o papel de um bufão, cheio de cores e sorrisos para os seus desafetos. Por isso preferia a impetuosidade do mar. Ele ao menos não enganava os seus olhos, mais parecia com uma mulher arredia. Tinha suas manias, e era tão selvagem quanto uma, mas mesmo assim, verdadeiro em cada ato. O mar lhe trazia a idéia de imensidão e esse sentimento ele havia refletido em seu barco, que se chamava Liberdade.
Adorava os dias de sol de vento fresco, e das manhas claras e sem nuvens. O sol que se levantava preguiçosamente para mais um dia, mesmo que fosse um dia infernal. Lembrava-se da sensação de estar livre, e de não ver em nenhum dos lados, uma porção de terra sequer. Essas lembranças porem, haviam sido levadas pela maré do tempo, uma maré muito mais odiosa e detestável para aqueles que como Soren, não souberam aproveitar o tempo que lhes fora dado.

domingo, 29 de março de 2009

De volta e de novo...

Acho q todos precisam falar o que pensam de vez em quando.

O Espirito dos Homens

A necessidade de escrever às vezes vem mais da mente do que da alma. Embora a verdadeira escrita seja uma arte, e como toda arte, nasça do espírito criativo do escritor, as coisas só são possíveis através da inteligência, ou seja, da mente consciente da criação. Em períodos como esse é clara a necessidade de expressão. Mas como expressar-se da forma correta? Somente as frases não seriam o suficiente, e a palavra dita poderia chegar de outra forma aos ouvidos. Não, não é esta a forma. Quando coisas assim acontecem, a necessidade de expressão surge para o papel, ou para um documento de texto virtual que serve como papel.

Os escritores são contadores de história. E sempre se conta histórias para outros, nunca para si. Escrevemos na esperança de que algum dia alguém leia, e alguém o reconheça. Que alguém se lembre de sua passagem. Contar histórias é parte de nossa cultura, talvez até mesmo de nossa raça. Mas sobre o que contar? Histórias de amor e de suspense sempre estão na moda, bem como a de superação de desafios, implícitos ou explícitos. A jornada pelo desconhecido geralmente abarca boa parte da nossa historia literária. Bem como os dramas da vida e os terrores ocultos de nossa mente. Junte tudo isso e teremos a maior historia já contada. Somos criaturas fáceis de entender em linhas gerais. Um pouco de insatisfação, preguiça e inveja e criamos o mundo que temos hoje. Cheio de tecnologia para suprir a preguiça, e violência e capitalismo para suprir a inveja. A insatisfação, porém, é algo que nunca pode ser “enganada”. Como espécie sempre estamos querendo mais. A busca por algo, seja lá o que este algo signifique, é tão ampla, que faz com que a preguiça e a inveja pareçam nulas perto disso. O diferente e o desconhecido são agradáveis, e todo o ouro conquistado, não brilha como antes. Podemos então dizer que a maior historia já contada, ou que a maior motivação do ser humano é a sua busca sem fim. Podemos analisar as histórias. Todas as histórias nos preparam para a jornada. A jornada sempre é a nossa maior busca, mas porque não somos preparados para o fim dela? O que fazer quando chegarmos lá? O que fazer quando pegarmos o nosso premio? Sentar e aproveitar? Até quando? Até querermos algo maior, ou apenas diferente.

Somos assim. Somos preparados para a busca por não sermos satisfeitos. Por estarmos em constante contato com o ego, e com o desejo. Pode-se dizer que a única busca que tem um fim “satisfatório” é a busca pelo nirvana, que descaracteriza o desejo (em teoria) e consuma-se somente na morte, que é o fim de tudo, mas que mesmo assim, demoraria muitas vidas para conseguir. Insatisfação. O homem só foi até o nirvana porque estava insatisfeito com o sofrimento de sua espécie e de seu próprio ser. O mesmo ocorre com Jesus e sua alteração de consciência. Através do cristo se chega ao Pai. E desta forma os problemas acabam, novamente com a morte. Este é o único fim para a busca. Todas as doutrinas e libertações apontam para a morte como o fim da busca incessante do ser humano pelo algo que o complete. Mas não a morte ordinária, e sim a morte contemplada, ou a boa morte, que definitivamente é uma figura poética. A insatisfação leva a procura e a procura só tem um fim, na morte. Mas toda morte, seja ela simbólica ou real, é revertida com o renascimento. E é este o ponto chave de toda a procura. A busca se caracteriza pelo conhecimento, ou pelo desejo de ir (ou conquistar) aonde não se foi. Esta busca inevitavelmente leva a destruição do que um dia foi, ou com a real morte do ser, sendo somente revertida, com a revitalização da consciência, ou com a instauração de uma nova busca, por parte de outro homem. È disso que consiste a história. Contar repetidamente a mesma busca, a busca pelo inatingível desconhecido, de diversas formas. Pois este é o espírito dos homens.